Sonetos do Padre Antônio Tomaz

 

Resumo Biográfico

O padre Antônio Tomaz - considerado o Príncipe dos Poetas Cearenses - nasceu no dia 14 de setembro de 1868, em Acaraú, distante cerca de 200 quilômetros de Fortaleza.

Começou seus estudos na cidade de Sobral, entrando depois para o Seminário de Fortaleza. Segundo consta, escreveu mais de cem sonetos, espalhados em diversas publicações, mas nunca teve livro publicado, aparecendo, porém em várias antologias nacionais.

Faleceu em Fortaleza em 16 de julho de 1941.

Reproduzimos os quatro sonetos seguintes (Versos e Reversos, Contraste, Desenganos e O Palhaço), que são verdadeiras jóias da literatura poética brasileira!

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Versos e Reversos (*)

Essa mulher, de face escaveirada,

Que vês tremendo em ânsias de fadiga

Estendendo a quem lhe passa a mão mirrada

Foi meretriz antes de ser mendiga



Fugiu-lhe breve, desta vida airada,

A mocidade, a doce e quadra amiga,

E chegou a ser velha (#) e desgraçada

Antes do tempo, a quanto (**) o vício obriga.



Ontem, de gozo e de volúpia ardente

Fosse a quem fosse dava a qualquer hora

O seio branco e o lábio sorridente



Hoje, triste sina, embalde chora

Pedindo esmola àquela mesma gente

Que de seus beijos se fartara outrora.

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(*) Em algumas antologias o título deste soneto aparece como “A Meretriz”.(**) E também a grafia "tanto" no lugar de "quanto".(#) Em certo site, o 7º verso, no lugar de "E chegou a ser velha e desgraçada" foi grafado:"E chegou a ser pobre e desgraçada".A palavra pobre aí deve ter sido posta por engano. Primeiro, porque, pela lógica, a meretrizrealmente fica velha antes do tempo e não pobre antes do tempo, pois não há tempo para se ficar pobre, além disso, via de regra, as meretrizes não são ricas.As formas transcritas neste e nos outros sonetos do Pe. Antônio Tomaz, que apresentamos, são as que trago na memória, de meus livros escolares, e de outras leituras, dos tempos de rapaz.Assim, por favor, venham os seus comentários.

[Comentário de Francisco Estêvão dos Santos Carmo]

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Contraste

Quando partimos no verdor dos anos

da vida pela estrada florescente

vão ficando atrás os desenganos

e a mocidade vai conosco à frente!

Rindo e cantando céleres e ufanos

vamos marchando descuidosamente...

Eis que surge, a velhice, de repente

desfazendo ilusões, matando enganos!

Aí nós entendemos claramente

como a existência é rápida e falaz...

E eis que acontece exatamente

o contrário dos tempos de rapaz:

Os desenganos vão conosco à frente

e a mocidade vai ficando atrás!

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Desenganos

Muitas vezes sonhei nos tempos idos

Acalentando sonhos de ventura,

Então a voz da lira suave e pura

Era-me um gozo d'alma e dos sentidos.


Hoje, vejo meus sonhos convertidos

Num acervo de dor e de amargura

E percorro da vida a estrada escura

Recalcando no peito os meus gemidos...


E se tento cantar, como remédio

Minhas mágoas ao sombrio tédio

Que lentamente as forças me quebranta

Os sons que arranco à pobre lira agora

Mais parecem soluços de quem chora

Do que a doce toada de quem canta.

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O Palhaço



Ontem, viu-se-lhe em casa a esposa morta

E a filhinha mais nova, tão doente!

Hoje, o empresário vai bater-lhe à porta

Que a platéia o reclama impaciente.


Ao palco, em breve surge... pouco importa

O seu pesar àquela estranha gente...

E ao som das ovações que os ares corta,

Trejeita, canta e ri, nervosamente.


Aos aplausos da turba, ele trabalha

Para encontrar no manto em que se embuça

A cruciante angústia que o retalha.

No entanto, a dor cruel mais se lhe aguça

E enquanto o lábio trêmulo gargalha,

Dentro do peito o coração soluça.